segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Uma lição de dignidade e respeito

Um jovem encontra um senhor de idade e lhe pergunta:
- Se lembra de mim? E o velho diz NÃO.
Então o jovem diz que ele era aluno dele.
E o professor pergunta:
- O que você está fazendo, o que você faz para viver?

O jovem responde:
- Bem, eu me tornei professor.
- Ah, que bom, como eu? (disse o velho)
- Pois sim.
Na verdade, eu me tornei professor porque você me inspirou a ser como você.
O velho, curioso, pergunta ao jovem que momento foi que o inspirou a ser professor.
E o jovem conta a seguinte história:
- Um dia, um amigo meu, também estudante, chegou com um relógio novo e bonito, e eu decidi que queria para mim e eu o roubei, tirei do bolso dele.
Logo depois, meu amigo notou o roubo e imediatamente reclamou ao nosso professor, que era você.
Então, você parou a aula e disse:
- O relógio do seu parceiro foi roubado durante a aula hoje.
Quem o roubou, devolva-o.
Eu não devolvi porque não queria fazê-lo.
Então você fechou a porta e disse para todos nós levantarmos e iria vasculhar nossos bolsos até encontrarmos o relógio.
Mas, nos disse para fechar os olhos, porque só procuraria se todos tivéssemos os olhos fechados.
Então fizemos, e você foi de bolso em bolso, e quando chegou ao meu, encontrou o relógio e o pegou.
Você continuou procurando os bolsos de todos e, quando ele terminou, ele disse:
- "Abra os olhos. Já temos o relógio."
Você não me disse nada e nunca mencionou o episódio.
Nunca disse quem foi quem roubou o relógio.
Naquele dia, você salvou minha dignidade para sempre.
Foi o dia mais vergonhoso da minha vida.
Mas também foi o dia em que minha dignidade foi salva de não me tornar ladrão, má pessoa, etc. Você nunca me disse nada e, mesmo que não tenha me repreendido ou chamado minha atenção para me dar uma lição de moral, recebi a mensagem claramente.
E, graças a você, entendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer.
Você se lembra desse episódio, professor?
E o professor responde:
- "Lembro-me da situação, do relógio roubado, que procurava em todos, mas não lembro de você, porque também fechei os olhos enquanto procurava."
Esta é a essência do ensino:
Se para corrigir você precisa humilhar; você não sabe ensinar.

terça-feira, 30 de junho de 2020

A MISSÃO DE UM GATO...

A maioria das pessoas acham que gatos não fazem nada, são preguiçosos e tudo o que eles fazem é comer e dormir...
É assim...
Você sabia que gatos têm uma missão na nossa vida?
Você sabia que hoje em dia, já começa a haver mais pessoas que tem gatos?
Agora são um pouco mais do que o número de pessoas que têm cachorros!!!
Você sabe ou conhece qual é a missão de um gato???
"Pois agora eu te escrevo uma série de dados sobre a vida secreta dos gatos, para que os conheça e entenda mais"...
Todos os gatos têm o poder de, diariamente, remover energia negativa acumulada em nosso corpo...
Assim que dormimos, eles absorvem essa energia. Se há mais de uma pessoa na família, e apenas um gato, ele pode acumular uma quantidade excessiva de negatividade ao absorver energia de tantas pessoas...
"Quando eles dormem, o corpo do gato liberta a negatividade que eliminam de nós".
Se no caso de estarmos demasiado estressados, eles podem ter tempo suficiente para libertar essa quantidade de energia negativa.
E por isso, consequentemente, eles são acumulados como gordura, até que eles possam libertá-la.
Portanto, eles ficam gordos e você acha que era a comida com quem os alimentava!!!
Ou por que ele não faz nada...
"E a verdade é que não é assim"
"É bom ter mais de um gato em casa, para que a carga seja dividida entre eles".
Eles também nos protegem durante a noite, para que nenhum espírito indesejável entre em nossa casa ou quarto enquanto dormimos...
"É por isso que eles gostam de dormir na nossa cama".
"E se eles consideram que estamos bem, eles não dormirão conosco".
Se houvesse algo estranho acontecendo ao nosso redor, eles saltavam para a nossa cama e nos protegeriam...
Se uma pessoa que vem pra nossa casa, e os gatos sentissem que essa pessoa está aí pra nos prejudicar ou que é ruim, os gatos então nos rodeiam para "nos proteger"...
Se você não tem gatos, e um gato de rua entra em sua casa adotando-a como sua casa, é porque você precisa de um gato nesse momento em particular...
*"Pois o gato de rua, ofereceu-se como voluntário para te ajudar"*.
"Agradeça ao gato por escolher sua casa, para esse trabalho".
Se você tem outros gatos e não pode ficar com o rua, procure um lugar para ele.
O gato chegou por uma razão desconhecida para nós a nível físico, e em sonhos você pode ver a razão do aparecimento do gato nesse momento. Pode ser que haja um débito, dos karmas que ele tem que te pagar...
"Portanto, não assuste ou assuste o gato".
Pois "Ele" vai ter que voltar, de uma forma ou de outra para realizar essa obrigação...
"Gatos curam-nos".
"Gatos são criaturas adoráveis, e amam seus donos acima de tudo, mas eles têm uma maneira diferente de amar"...
E, não obstante disso, o seu amor não seja verdadeiro, assim é que não hesitem de que
"Eles sejam nossos grandes e verdadeiros amigos e principalmente uns bons companheiros"...
*"Pessoas alérgicas a gatos são emocionalmente incapazes de amar alguém com profundidade, pois reprimem seus verdadeiros sentimentos"*

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Eros e Psiquê - o Amor e a Alma

Psiquê era uma princesa filha do rei de Mileto, a mais nova de três irmãs. Era tão bela que a comparavam a Afrodite, deusa da beleza. Só que Afrodite não gostou da comparação e resolveu vingar-se pedindo a seu filho Eros que a atingisse com um dos seus dardos e a fizesse apaixonar-se pelo homem mais vil e cruel sobre a terra.
O jardim de Afrodite tinha duas fontes: uma de água doce e outra de água amarga. Para satisfazer o pedido da mãe, Eros encheu dois vasos de âmbar, cada um com o seu tipo de água e voou até ao quarto onde cândidamente Psiquê dormia. Inclinado sobre a jovem, deitou umas gotas da água amarga sobre os seus lábios e tocou-a de lado com a ponta de uma das suas setas. Ferida, Psiquê acordou e com o seu gesto sobressaltado fez com que o deus se espetasse com a sua própria seta. Ferido com o seu veneno, Eros derramou então gotas de água doce sobre os cabelos da jovem.
Foi a partir desse dia que os ,até aí ,inúmeros pretendentes se evaporaram. Solitária desde então, Psiquê chorava, revoltada com uma beleza que não despertava já nem admiração, nem amor, ou mesmo desejo.
Consultado pelos pais da jovem o oráculo de Apolo, em Delfos, este declarou que Psiquê não estava destinada a ser esposa de um mortal. Deveria subir ao ponto mais alto da montanha onde seria desposada por uma serpente alada que lá se encontrava à sua espera. Nada podendo contra o destino, os pais de Psiquê conduziram-na à montanha onde a abandonaram.
Sozinha, Psiquê tremia de desgosto e de medo, chorando perdidamente. Zéfiro, o deus da brisa suave do Sul, fê-la então adormecer. Quando acordou, a jovem princesa viu-se num palácio maravilhoso, acompanhada por muitas servas que a cuidavam. E sossegou um pouco das suas aflições.
Na noite seguinte, foi acordada por uma voz doce. Na escuridão, sentiu-se enlaçada por um corpo cuja pele e formas musculadas lhe pareceram de grande perfeição. Porém, ao acordar, o seu amante tinha-se ausentado. E este ritual manteve-se até à altura em que a jovem, intrigada, lhe pediu que a deixasse ver-lhe o rosto. Da escuridão, o amante respondia-lhe que no dia em que ela o visse ele seria obrigado a desaparecer e abandoná-la para sempre. Então a jovem resignou-se e era muito feliz até à altura em que, curiosas, as suas duas irmãs foram visitá-la. Invejaram a sumptuosidade em que a irmã mais nova vivia e criticaram-na muito quando souberam que nunca tinha visto o rosto do marido e futuro pai do seu filho e por quem a jovem confessava estar profundamente apaixonada. E até lhe disseram como saber o que queria: usando de astúcia.
Uma noite, conservou-se acordada para ouvir o amante chegar. E, quando este adormeceu, acendeu uma lamparina de azeite para o ver e ficou deslumbrada com a sua extrema beleza. Ao curvar-se para o beijar, enternecida, derramou uma gota de azeite quente sobre o seu ombro direito, o que o acordou. E o jovem exclamou, penalizado:
- Disse-te tanta vez que no dia em que visses o meu rosto eu teria que desaparecer!
Colocou então sobre os ombros a capa que o tornava invisível aos humanos e fugiu. Perseguido pela jovem princesa completamente desvairada, ainda lhe gritou que era Eros, o deus do Amor e filho de Afrodite.
Abandonada, caindo em si, Psiquê lamentou o que fizera e que pusera fim irremediável à sua felicidade.
Então, em desespero, resolveu pedir a Zéfiro que a levasse junto de Afrodite para lhe suplicar que tivesse compaixão do seu infortúnio, mas a deusa repeliu-a e condenou-a a vaguear pelo mundo. O sofrimento e a busca incessante do amante que sempre lhe fugia cansaram-na tanto que , disposta a enfrentar a morte, acabou por cair numa profunda sonolência.
Ainda que traído na sua confiança, Eros sofria por ver o sofrimento da esposa e implorou a Zeus, o senhor do Olimpo, que se compadecesse da infortunada. Então, com a permissão de Zeus, Eros despertou Psiquê do sono profundo em que caíra e arrebatou-a consigo para o Olimpo, a morada dos deuses. Zeus oficializou os esponsais dos dois amantes e ele próprio deu a ambrosia a Psiquê, tornando-a imortal.
É a partir daqui que Eros e Psiquê - o Amor e a Alma - enlaçarão eternamente os seus destinos. E é desta união que nascerá a Volúpia.

Fonte: Blog Um doce azul - ...desabafos

Não tenho tempo...


 Sabes, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar contigo. Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer. nunca joguei dominó contigo, damas xadrez, ou batalha naval. Eu percebo que tu me procuras, mas, sabes, meu filho, eu sou muito importante e não tenho tempo. Sou importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis. Como largar tudo isso para brincar contigo? Não, não tenho tempo.

Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado. Lembras-te? Não te dei atenção e continuei a ler o jornal. Porque afinal... afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa. Nunca vi os teus livros, não conheço a tua professora. Nem me lembro qual foi a tua primeira palavra. Mas, tu sabes, eu não tenho tempo. De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito se eu tenho outras grandes coisas a fazer?

É incrível como tu cresceste! Estás tão alto! Nem tinha reparado nisso. Aliás, eu quase não reparo em nada. E, nesta vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque, aqui, fico calado diante da televisão.
Porquê? Porque a televisão é importante e informa-me muito.

Sabes, meu filho, a última vez que tive tempo para ti foi numa noite de amor com a tua mãe. Eu sei que tu te queixas, eu sei que tu sentes a falta duma palavra, duma pergunta amiga, duma brincadeia, dum chuto na tua bola. Mas eu não tenho tempo. Eu sei que sentes a falta de um abraço e de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque, ao fundo da rua, comprar um jornal, uma revista. Mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua? não tenho tempo. Mas tu entendes: eu sou um homem importante. Tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas. Meu filho, tu não entendes nada de comércio. Na realidade eu sou um homem sem tempo. E sei que tu ficas triste porque as poucas vezes que falamos é um monólogo - só eu é que falo.

Eu quero silêncio. Quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente. Tens a mania de saltar para os braços dos outros. Filho! eu não tenho tempo para te abraçar. Não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.

Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Descartes e Kant? Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes, filho, não tenho tempo. Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência. Porque, até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo. E, na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, ver-te.

 Vitor de Sousa  

terça-feira, 5 de maio de 2020

Consciência

Quando tomamos consciência do que não recebemos de nossos pais, surge uma dor muito grande. É fácil cairmos na acusação, sentirmos rancor e os culparmos pelas dificuldades que enfrentamos na vida.

E é normal sentirmos tudo isso. É legítimo ficarmos tristes ou com raiva deles. Nossa criança interior finalmente está sendo escutada e acolhida quando validamos o que ela sentiu e permitimos que ela se expresse.

O problema é permanecermos neste lugar. Quando insistimos que temos motivos para estar magoados, nos vitimizamos. Ficamos remoendo nossas experiências dolorosas e esperando que nossos pais reparem o erro deles. Resistimos em reconhecer que eles fizeram o que podiam, o que estava ao alcance deles, de acordo com a consciência e a maturidade emocional deles na época.

Você conhece a história dos seus pais? Sabe como foi a infância deles, como era a relação deles com os pais? Sabe o que eles tiveram que enfrentar quando pequenos?

Muito provavelmente, se sua infância foi dura, a deles foi pior. Eles terem vindo antes de você e terem passado pelo que passaram poupou você de muita dor.

Você se cobra quando não consegue dar a seus filhos aquilo que você não recebeu? Se sente mal quando repete a mesma fala agressiva que escutou de seus pais?

Você percebe que o mesmo aconteceu com eles? Eles também estavam tentando dar o melhor de si. E também estavam falhando. E também estavam se cobrando e se sentindo mal quando falhavam.

Enquanto você seguir cobrando deles o que você não recebeu, vai continuar cobrando de si ser o pai ou a mãe perfeita para seus filhos. Ninguém merece essa cobrança. Somos humanos e aprendemos pelo erro. Vamos falhar e está tudo bem. Estamos todos aprendendo e em processo de crescimento e cada um está em um ponto de sua jornada. Você não é melhor que eles por ter mais consciência hoje que eles tiveram ontem.

Liberte seus pais, perdoe suas imperfeições. Tire o rótulo de pai e mãe deles e enxergue o homem e a mulher que eles foram. Eles também tiveram suas feridas e dificuldade para te oferecer o que não receberam. Tenha mais compaixão por eles.

Essa é a chave para conectar com o amor incondicional.

 Maíra Soares

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Brilhante texto de Helena Sacadura Cabral.



— Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos "afro-americanos", com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
— As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas domésticas" e preparam-se agora para receber a menção de "auxiliares de apoio doméstico".
— De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos" que passaram todos a "auxiliares da acção educativa" e agora são "assistentes operacionais".
— Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por "delegados de informação médica".
— E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".
— O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez";
— Os gangs étnicos são "grupos de jovens";
— Os operários fizeram-se de repente "colaboradores";
— As fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".
— O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.
— Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
— A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: "Sou mãe solteira..." ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: "Tenho uma família monoparental..." - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade implante.
— Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e "terroristas"; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo".
— Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".
— Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)
— As putas passaram a ser "senhoras de alterne".
— Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
— E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a "correcção política" e o novo-riquismo linguístico.
Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.
Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
Hoje não se fala português... linguareja-se!
(Helena Sacadura Cabral)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Ser Jovem



 
     Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutável.

          É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.

          Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção, antes mesmo antes de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.

          Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê.

          É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô É gostar de barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com a baiana, curtir o ônibus e detestar meia marrom.

          Ser jovem é beber chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar secretas simpatias pelos crentes que cantam nas praças em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração.

          É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, da bala jujuba, de manipulação, de ser usado.

          Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“---Já conhece fulano?”) morrendo de medo.

          Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir a lua ou conhecer Finlândia, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiros raríssimos: cheiro de férias, cheiro de mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova, marcenaria ou toalha lá do clube

          Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas aí da vida se não fosse isso.

          É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gosto de seu silêncio amargo ou agridoce.

          Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras.

          Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que tenha, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical de superprodução da Metro. É abraçar esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de SER.



                                      Artur da Távola. 8. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. P. 13-4.